20090206

Novel(i)a, por Manuel da Silva Ramos

O exílio na província de Manuel da Silva Ramos, escritor que ganhou um prémio de novelística em 1968, como é sabido, adquire agora visibilidade pelas crónicas que semanalmente assina nos pergaminhos do Jornal do Fundão.

Glosas que oscilam entre a autocomiseração e a lauda e que amiúde passam desapercebidas, dada a convergência com o Correio da Covilhã, responsabilidade do inefável Romão, não obstante a gálica verve.

Esta semana MSR surpreendeu, relativamente. Não só por se comparar a Paul Celan: "Depois como Paul Celan, o poeta que se suicidou por causa do nazismo, cavalguei a neve silenciosa do exílio político..."; mas pelo tema, menos obsoleto, e sobretudo pelas considerações sobre a liberdade de expressão na internet, de fortes traços surrealistas, como soie.

Transcrevemos um excerto dessa invectiva genérica, por cortesia do Carpinteira, para que possa o leitor perceber do que falamos, ou não: “A neve (...) ouve, compreende e admite. Todo o contrário, por exemplo da perversa Internet onde reina o fascismo e a delação, e onde muitos imbecis escrevem pensando que tem qualquer coisa de essencial para dizer ao mundo. A poesia é maior que toda a difamação, todo o desprezo deste oco instrumento tecnológico que é um caudal de lama infecta. Neva no meu coração mas não na Internet".

Conhecida a avença que MSR detém com a Câmara da Covilhã (1.200€/mês até 2012), o Grémio* achava apropriado que o escritor fizesse uma declaração de interesses quando discorre sobre política local. Que conste aqui no Grémio*, MSR não ocupa o lugar de assessor da CMC por concurso público, situação que lhe conferiria outra autoridade e talvez tornasse mais plausíveis as suas convicções e qualidades, não racionais e poéticas, mas simplesmente políticas.

A cultura democrática pode não se aprofundar anonimamente, mas também achamos que não se faz com a reprodução de lugares comuns ou alimentando a sede de protagonismo com anódinas e cândidas descrições de personagens e episódios castiços. A "arte negra", a imprensa que mudou o mundo e abriu as consciências não surgiu (só) para isso. Bem sabe o MSR que a luta é desigual e, em vernáculo, "fala com as costas quentes".

4 comentários:

Anónimo disse...

Bom texto. Assertivo q.b e nada ofensivo, mas cuidado com a importância que dão à personagem.

Anónimo disse...

"como Paul Celan"?
:)

Anónimo disse...

Este deve pertencer àquele grupo de exilados que fugiram à tropa com a ideia de fazerem um figurão no regresso. E fazem! Julgam-se iluminados, bafejados pela tolento, só por terem vivido o 25 de Abril... O país está cheio destes arrogados donos da consciência democrática, alguns deles muito responsáveis pelo estado a que isto chegou. Estão por todo o lado e em geral muito próximos do poder conservador. Parece ser apenas mais um caso a confirmar a regra. Longa vida ao Grémio.

Anónimo disse...

Também estou exilado na província desde 1969. Alguém me arranja uma avença de € 1.200,00? Agradecido.