20090506

25 de Abril, na Covilhã?

Com que legitimidade e por que razão a Assembleia de Freguesia de Tortosendo censurou o discurso de Ana Monteiro na Sessão Solene comemorativa do 25 de Abril? Por que afirma o elemento da CDU que a intervenção da deputada municipal do Bloco de Esquerda "em nada dignificou as Comemorações do 25 de Abril"? Sai o PCP mais dignificado?

O Grémio* tem aguardado alguma crítica, opinião, um argumento que seja sobre o empenhamento de alguém em dizer o que muitos calam, mas nada. Nada. É certo que o discurso da Ana Monteiro precisa, num ponto ou noutro, de descodificação e que isso não está ao alcance de qualquer romão. Porém, a sua riqueza reside precisamente na ambivalência de juntar a voz crua de quem passa dificuldades - É muito complicado querer dar de comer aos nossos filhos e não termos -, e são cada vez mais no concelho, a observações acutilantes sobre a segregação e desprezo perpetrados pela casta política reinante.

O discurso da Ana afronta a cultura de patrocínio autárquico, cujos processos de intimidação são públicos e que deveriam merecer a condenação de todos os partidos, inclusive do PSD, demonstra séria preocupação com a condição humana e propugna um conjunto de valores universais, mais importantes que a bacoca formalidade cerimonial. No fundo, é um discurso político, no que isso pode ter de sério. Et pour cause, transcrevemos do seu blog alguns excertos.

"…Testemunhos paradigmáticos do cortejo condenado dos oitocentos trabalhadores, na sua maioria mulheres, com salários em atraso nas confecções da cova da beira. Em cima de suas cabeças conta é a certeza da pena do tombar no olho da rua... Dos representantes da classe dirigente local, o bem nutrido registo infame da ataraxia... O monolítico poder local, que se deveria comprometer com o desenvolvimento de toda uma população, forja na economia doméstica “virtuosas” dívidas de 88 milhões de euros... Os cavalheiros representantes da classe dirigente nacional administram o país em seu nome, dissimulam a necessidade de se manterem no seio da impostura, longos passos se dão para alimentar banqueiros, estas figuras paradigmáticas, que na sua autópsia revelaram nas entranhas a absolvição da má gestão, do roubo descarado, dos milhões da corrupção... Há qualquer coisa de bafiento no epicentro da esfinge podre deste poder, que na nossa cidade determina o que vai acontecer, mestres nas piruetas e nos artifícios da circunstância e da pompa que em altitude se iluminam, adulados, venerados e bajulados por espantalhos. Podre poder automaticamente poderoso que se entranha e insiste no desenfreio do florescimento do mercado imobiliário, que vai-se lá saber porquê, esta insistência não corresponde à procura real de habitação na cidade... Investe-se na propaganda de “salvadores da urbe”, onde todos os compromissos assumidos com as gentes se transformam em menos que nada, neste universo partido mutila-se uma cidade ao serviço da vontade de clientelas. No escalpe da toponímia da cidade nascem elevadores de vã glória, as pontes de vã de eternidade, templos do vão consumismo, promessas vãs de felicidade... os ares da globalização, do desenvolvimento, das obras “extruturantes”, do cosmopolitismo saloio. A diferença é expurgada nesta cidade, na política do pontapé, no repertório passional trauliteiro, carroceiro e calhoeiro, varre-se deste concelho quem olhe de esguelha o servilismo lacaio do regime. Escorraçam-se os legítimos opositores democráticos, censuram-se artistas e intelectuais opositores. Vinga esta cultura de patrocínio autárquico, atolam-se os inventores de novas formas de democracia, de novas armas consistentes de libertação. O medo faz caminho, o medo de não arranjar e o medo de perder o emprego, o medo de serem substituídos por outros mais “empenhados” e mais “praticantes”, o medo de não conseguir a licença da Câmara, o medo da marginalização, o medo das garras disformes da justiça… o medo de perder a cunha para o lugar num lar de idosos… o medo… o medo… o medo de quem não joga com as cartas viradas para cima. O medo de aplaudir quem se compromete e de quem não amocha, o medo de aplaudir o cidadão da esfera livre, denunciado e serpenteado, pela ignorância do regime, como nocivo para os “crentes”... Tarda o relâmpago da liberdade!"

5 comentários:

tecelao disse...

"No fundo, é um discurso político, no que isso pode ter de sério."

Tenho pra mim que todos os discursos sobre o 25 de Abril são politicos.Haverá, porventura, alguns mais oraculares que outros.

Contudo, não me parece que a opinião destrambelhada um dos menbros do PCP, possa vincular este partido ao dislate.
Digo eu.

saudações.

G* disse...

Tem razão, tecelão. O Grémio* folgava em saber que é esse membro iluminado. O partido certamente beneficiaria com a clarificação. O Tortosendo não pára de surpreender. Quem o viu e quem o vê!

Anónimo disse...

Coragem para dizer as verdades ! Sem medo de represálias , sem subserviência , sem comprometimentos nem enriquecimentos duvidosos . Haja coragem e mais 10 , 20 ou 100 como ela no nosso concelho e já não reinaria o medo , a ditadura encapotada que ameaça tirar , não a liberdade , mas o pão da boca . Sou daqueles que não "pode" falar em público porque senão podem lixar-me a vida a seu belo prazer . Vejo os colegas de emprego serem transferidos de funções como represália . Trabalho na ADC e vejo como se transferem os colegas que passaram agora para a Câmara e que qualquer dia poderão ser "supranumerários " , eles e os que já lá se encontram actualmente nos serviços onde foram integrados . A classe dirigente local agradece ao Sócrates ter criado as ferramentas legais para a precariedade do posto de trabalho . E com isso o surge o MEDO . Hoje já nem se pode dormir descansado sem saber como será o dia ou o mês seguinte . Tenho mais de 15 anos de serviço numa função específica . Será que posso estar tranquilo . Assegurar aos meus filhos que daqui a um ano ou dois terei emprego para os sustentar ? Como eu dezenas de colegas , aqui e na Câmara . Será possível que se tenha de viver no medo , no silêncio ? Mas quando nos tiram tudo e um homem se vê na miséria pode muito bem tomar atitudes desesperadas que jamais lhe passariam pela cabeça se a vida tivesse um rumo . E depois ? Aqueles que nos maltrataram poderam ficar impunes ? NÂO ! Haja respeito por quem trabalha e não sejam tão gananciosos . Não lhes chega com ser muito ricos , só ficam bem quando virem os outros sem nada ?

manufactura disse...

Prometo não exigir um pedido de desculpas ao PCP :) :) :) :)

ANTONIO DELGADO disse...

Se calhar o dito censor só assim foi capaz de ter o seu momento de visibilidade...ou será que estou enganado?
Força Ana e não ligues.