20110923

Caciques

"Inevitável será a vitória de Jardim nas próximas eleições regionais. Provavelmente, já será tarde para evitar a vergonha colectiva de assistirmos à "relegitimação eleitoral" do primeiro responsável pelo estado a que "aquilo chegou". Antes da invenção do sistema prisional, na Idade Média - a genuína matriz cultural do presidente da Madeira - usava-se o pelourinho para expor à reprovação colectiva quem ofendesse as regras elementares de convivência social. Felizmente, o conceito de "moralidade pública" mudou substancialmente ao longo dos tempos e sofisticou-se o regime de sanções. Por isso, não é admissível que se transforme o supremo exercício de responsabilização política que são as eleições, numa democracia, em plebiscito de padrões de conduta que ostensivamente advogam o desprezo pela autoridade das leis do Estado de Direito. Se os correligionários do continente não conseguiram convencê-lo a renunciar à candidatura, no mínimo, deviam confessar o seu fracasso e anunciar a penitência. Porque o povo não é estúpido. Se Jardim ganhar, é porque os eleitores reconhecem algum benefício da sua insólita governação... temos assistido à penosa reiteração dos preconceitos que identificam o Poder Local com o desperdício inútil em obras de fachada e fontanários nas rotundas, a circulação caótica e o licenciamento venal, a corrupção e o compadrio. Coisas, enfim, que todos sabemos que existem, que subsistem largamente impunes, e que apenas assumem contornos mais discretos e resultados mais lucrativos, à medida que se sobe na hierarquia do poder. E contudo, paradoxalmente, pretende-se que o mesmo centralismo que gerou essa inimputável monstruosidade à sua própria imagem e semelhança seja o remédio para a curar. É a desconfiança e a mesquinhez do centralismo que geram a subserviência e a arrogância dos caciques. A incompetência de cima reproduz-se abaixo e por reflexo condicionamento, os mais "fortes" conseguem, displicentes, a complacência que os sustenta no poder. Caciques e centralistas são duas faces da mesma moeda, almas gémeas que reciprocamente se alimentam e reforçam em perversa simbiose"  Pedro Bacelar de Vasconcelos, JN

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